domingo, 15 de agosto de 2010

"Estratégia de campanha de Serra deu ‘100%’ errado"

Vale a pena ler essa análise feita por Por Fábio Pozzebom/ABr. Confira:
Todos os planos que José Serra traçara para sucessão de 2010 deram errado. Em consequência, o presidenciável tucano chega à fase do horário eleitoral gratuito, último estágio da campanha, em situação de absoluta desvantagem.

No pior cenário esboçado pelo tucanato, previa-se que Serra iria à propaganda de televisão empatado nas pesquisas com Dilma Rousseff. Deu-se algo mais dramático.

Todos os institutos acomodam Serra atrás de sua principal antagonista. No Datafolha, o fosso é de oito pontos. Vai abaixo um inventário dos equívocos que distanciaram a prancheta do comitê de Serra dos fatos:

1. Chapa puro-sangue: Serra estava convicto de que Aécio Neves aceitaria compor com ele uma chapa só de tucanos. Em privado, dizia que as negativas de Aécio não sobreviveriam a abril. Aceitaria a vice quando deixasse o governo de Minas. Erro.

2. PMDB: O tucanato tentou atrair o PMDB para a coligação de Serra. Nos subterrâneos, chegou-se a levar à mesa a posição de vice. Desde o início, a chance de acordo era vista como remota. Mas o PSDB fizera uma aposta: dividido, o PMDB não entregaria o seu tempo de TV a Dilma. Equívoco.

3. Ciro Gomes: O QG de Serra achava que Ciro levaria sua candidatura presidencial às últimas consequências. Numa fase em que Serra ainda frequentava as pesquisas com dianteira de cerca de 30 pontos, o tucanato idealizou um cenário de sonho.

Candidato, Ciro polarizaria com Dilma a disputa pelo segundo lugar, dividindo o eleitorado simpático ao governo. Mais um malogro.

4. Marina Silva: Serra empenhou-se para pôr de pé, no Rio, a aliança de seus apoiadores (PSDB, DEM e PPS) com o PV de Fernando Gabeira. Imaginou-se que, tonificado, Gabeira iria à disputa pelo governo fluminense com chances de êxito. E o palanque dele roubaria votos de Dilma para Serra e Marina.

Deu chabu. Empurrado por Lula, Cabral é, hoje, candidato a um triunfo de primeiro turno. A vantagem de Dilma cresce no Estado. E Marina subtrai votos de Serra.

5. Sul e Sudeste: O miolo da tática de Serra consistia em abrir boa frente sobre Dilma nessas duas regiões. Sob reserva, Luiz Gonzales, o marqueteiro de Serra, dizia: O Nordeste é importante, mas nossas cidadelas são o Sul e o Sudeste.

Acrescentava: Não podemos perder de muito Nordeste. E temos de ganhar muito bem no Sul e Sudeste. As duas premissas fizeram água. Ampliou-se a vantagem de Dilma no Nordeste. E ela já prevalece sobre Serra também no Sudeste.

Há 20 dias, Serra batia Dilma em São Paulo e era batido por ela no Rio. Em Minas, a situação era de equilíbrio. Hoje, informa o Datafolha, a vantagem de Dilma (41%) ampliou-se em dez pontos no Rio. Serra (25%) enxerga Marina (15%) no retrovisor.

Em Minas, Dilma saltou de 35% para 41%. E Serra deslizou de 38% para 34%. Em São Paulo, o tucano ainda lidera, mas sua vantagem sofreu uma erosão de sete pontos. Resta, por ora, a “cidadela” do Sul, insuficiente para compensar o Nordeste. Pior: Dilma fareja os calcanhares de Serra também nesse pedaço do mapa.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, a vantagem de Serra caiu, em 20 dias, de 12 pontos para oito. No Paraná, encurtou-se de 15 pontos para sete.

6. Plebiscito: Lula urdira uma eleição baseada na comparação do governo dele com a era FHC. Serra e seu time de marketing deram de ombros. Como antídoto, decidiram promover um confronto de biografias: a de Serra contra a de Dilma.

Entre todos os equívocos, esse talvez tenha sido o mais crasso. Ignorou-se uma evidência. Do alto de sua popularidade lunar, Lula tornou-se o eixo da campanha. Tudo gira ao redor dele.

Lula transferiu votos para Dilma em proporção nunca antes vista na história desse país.

7. Debates e entrevistas: Em sua penúltima aposta, o grão-tucanato previra que Serra, por experiente, daria um baile em Dilma nos confrontos diretos. Não deu.

Reza a cartilha dos marqueteiros que, nesse tipo de embate, o candidato que vai bem não ganha votos. Porém, o contendor que dá vexame sujeita-se à perda de eleitores. Para o PSDB, o vexame de Dilma era certo como o nascer do Sol a cada manhã.

No primeiro debate, promovido pela TV Bandeirantes, o escorregão não veio. Na entrevista ao “Jornal Nacional”, também não. Serra houve-se bem nos dois eventos. Porém, ao esquivar-se do desastre, Dilma como que ombrou-se com ele.

8. Propaganda eletrônica: Começa nesta terça (17) a publicidade eleitoral no rádio e na TV. O comitê tucano vai à sua última aposta. No vídeo, insistir na exposição da biografia do candidato. Serra será vendido como gestor experiente.

Vai-se esgrimir a tese de que Serra –ex-secretário de Estado, ex-deputado, ex-senador, ministros duas vezes, ex-prefeito e ex-governador— está mais apto do que Dilma para continuar o que Lula fez de bom e avançar no que resta por fazer.

Até aqui, o discurso não colou. Na propaganda adversária, o próprio Lula se encarregará de dizer que a herdeira dele é Dilma, não Serra. A julgar pelas pesquisas, o eleitor parece mais propenso a dar crédito ao dono do testamento.

domingo, 1 de agosto de 2010

Quem vai ganhar? Serra ou Dilma?

Interessante o que Marcia Denser do Congresso em Foco diz em sua análise sobre as chances de Serra e Dilma nesta campanha e de suas atuações. Leia abaixo:

“Serra personifica a chamada direita perversa e burra, a direita alucinada que acredita piamente se manter indefinidamente no poder sem fazer a mínima concessão às questões sociais e direitos humanos”

Ao que tudo indica – e todas as pesquisas apontam nesta direção – Dilma deve ganhar a disputa presidencial, até porque agora seu maior aliado eleitoral já não é o presidente Lula, mas o próprio candidato José Serra, cuja imagem e atitude truculentas por si mesmas têm sido mais do que suficientes para afugentar o eleitor, sem contar as gestões neoliberalíssimas de apoio exclusivo ao capital, tornando-o o maior responsável pelo franco declínio de sua campanha.

Serra personifica a chamada direita perversa e burra, a direita alucinada que acredita piamente se manter indefinidamente no poder sem fazer a mínima concessão às questões sociais e direitos humanos – ao lado humano mais que humano do ser humano que precisa trabalhar, comer, morar, respirar & outras coisas de somenos. E mais: promovendo a exclusão e eliminando literalmente qualquer oposição. Porque essa direita declarou guerra ao ser humano. Serra, que encarna esta direita, reduz sua campanha a um “duelo de competências”. Esquecendo-se que presidente não é gerente, país não é supermercado e população não se demite. Exclui. Apaga. Deleta.

Na pesquisa Datafolha, divulgada em 26/7, que coincide com o Vox Populi precisamente nas declarações espontâneas de voto, imunes às distorções de abordagem e amostragem, vemos que Dilma lidera, como segue: - Datafolha, espontânea (na sua opinião, quem vai ganhar as eleições para presidente da república em outubro?): Dilma 21% X Serra 16% (diferença de cinco pontos); - Vox Populi, espontânea: Dilma 28% X Serra 21% (diferença de sete pontos). Nas respostas espontâneas colhidas pelo Datafolha, 4% ainda declaram voto em Lula e outros 4% mencionam ‘no candidato do Lula’ e ‘no candidato do PT’. Um universo de 8 pontos que deve transitar majoritariamente para a candidatura Dilma, graças à maior exposição da ex-ministra ao lado de Lula na propaganda eleitoral gratuita. Pois, como vimos, em questões de imagem, Serra perde feio.

A gota d’água foi o vice. Em São Paulo se ouve por toda parte: “No Serra, eu não voto. Deus me livre, já imaginou se o sujeito pifa e esse Índio vira presidente do Brasil?”. O fato é que, ao acolher como vice o deputado Índio da Costa (DEM-RJ), inexperiente, inexpressivo, um ilustríssimo desconhecido para o resto do país, parece que Serra esqueceu completamente o eleitor.

Por quê? Entre outras razões, porque, no Brasil, a possibilidade do vice-presidente assumir o mandato presidencial não é algo remoto, mas um evento perfeitamente possível de ocorrer e a qualquer momento, pois nossa memória política recente ainda registra que Sarney, vice de Tancredo, foi presidente durante cinco anos, de 1985 a 1990, e Itamar Franco, vice de Collor, arriado do poder em 1992, exerceu o mandato até 1995. Sem entrar no mérito de um ou outro, constata-se apenas o fato. Sem contar que o próprio Serra, campeão de alpinismo eleitoral, não costuma terminar mandatos para os quais é eleito, nem jurando de pé junto e registrando em cartório. Se a questão é competência para governar o Brasil, referido vice teria alguma?
Serra não é exatamente o pós-lula, é um retro-FHC. Ou Zé Pedágio, como é chamado “carinhosamente pelos” paulistas. E agora já não estamos mais nos referindo à imagem mas à sua peculiar competência – que ele pretende estender para todo o país e por um bom tempo.

Sob as gestões do PSDB de Serra, Sampa ganha um novo pedágio a cada 40 dias.Desde o início da privatização das rodovias de São Paulo, em 1998, foram instalados 112 pedágios nas estradas paulistas, estado que já tem mais pedágios do que todo o resto do Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, são 160 pontos de cobrança em vias estaduais e federais no território paulista, contra 113 no restante do país. Em resumo, fica mais barato viajar para outro estado do que dentro do próprio. Cruzar de automóvel os 404 km entre a capital paulista e Curitiba, PR, custa R$ 9 em tarifas, mas para cobrir a mesma distância até, digamos,Catanduva, paga-se R$ 46,70.

No entanto, tocar publicamente neste assunto já custou o emprego de dois conhecidos jornalistas da TV Cultura, Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli, quando no Roda-Viva questionaram Serra sobre os pedágios abusivos cobrados nas rodovias privatizadas de Sampa.

Mas essa privatização generalizada da vida (por que não terceirizar a primeira missa, nos dias úteis?) me lembra um refinado monólogo escrito por Roberto Schwarz (1) na primeira pessoa dum futuro dono de pinguela, com pedágio para pedestres, do qual extraio alguns trechos : “Há coisa mais poética do que um casal que compra uma ponte?... Que raiva me dá quando vejo as pessoas respirando de graça! Retrocesso não é comigo, vou me defender da inadimplência dos despossuídos. Não sei se quero a pinguela (o pedágio), que vai me dar uma porcaria por não sei quanto tempo, o qual tratarei de prolongar ao máximo, à bala ou como for possível, depois do que não fico no país nem um minuto mais!.”